Duas Semanas em Auschwitz

Chegada a Auschwitz II. (Pintura a óleo).

Ben Abraham foi separado de sua mãe assim que eles chegaram a Auschwitz. Depois de ambos chorarem convulsivamente, ordenaram que ela ficasse na fila das mulheres, depois do que partiu lentamente. Ele nunca mais a viu.

Os soldados separaram os homens em grupos e os fizeram andar diante um oficial alemão que nada dizia: ele apenas apontava o dedo para a direita ou para a esquerda, indicando para que lado cada um deveria ir.

Mais da metade das pessoas que tinha desembarcado do trem foi selecionada por aquele oficial – Josef Mengele – para ir para algum lugar que ele desconhecia.

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Uniforme de Auschwitz. (Giz de cera).

Então, pela primeira vez, Ben Abraham viu as chaminés. Perguntou a um dos homens que usava o uniforme listrado para onde estavam indo todas aquelas pessoas; ele respondeu que estavam indo para o crematório, mas ele não sabia o que era aquilo. Então, o homem disse: “a gente entra por aqui”, mostrando o portão com o indicador, “e sai por ali”, apontando a chaminé, com o dedo para cima.

Ben Abraham perguntou também sobre as crianças. O listrado disse que somente os gêmeos eram poupados, pois o passatempo favorito de Mengele era fazer experiências com gêmeos.

Logo depois, um grupo de listrados aproximou-se, carregando uns baldes. Eles gritavam que todos deveriam entregar qualquer ouro, diamantes ou dinheiro que ainda tivessem. Aqueles que não seguissem a ordem e fossem pegos seriam executados na hora. Ben Abraham, então, lembrou que tinha o anel de diamante de sua mãe costurado na barra da calça. Rapidamente o tirou e o jogou em um dos baldes.

Depois de serem espancados, raspados e receberem seu uniforme, o qual incluía “sapatos” de madeira, ele e os outros homens foram levados a Birkenau, onde Ben Abraham viu a inscrição “Arbeit macht frei” (“O trabalho traz a liberdade”). O grupo era composto de cerca de 500 homens; eles foram colocados em um barracão vazio, em cuja porta havia um cartaz onde se lia “Quarenta cavalos”.

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Barracões e cerca elétrica em Auschwitz. (Pintura a óleo).

Experimentando uma rotina cruel como prisioneiro do campo, ele percebeu que a maioria dos judeus deportados do gueto de Lodz tinha sido trazida a Auschwitz e passado pela seleção feita por Mengele e seus auxiliares. Ele apenas esperava que seu dia de ir chegaria. Parecia que os alemães estavam mais preocupados em matar todos os judeus do que em fugir dos russos.

A certa altura, ele encontrou seu tio em Auschwitz. Sua esposa e a filhinha tinham ido juntas para a câmara de gás.

Um dia, um dos prisioneiros contou a Ben Abraham sobre a câmara de gás e sobre como aqueles selecionados para a morte eram mortos com gases venenosos, depois de dizerem a eles que somente tomariam um banho. Aqueles que limpavam as câmaras também seriam mortos, após realizarem o serviço de limpeza.

Algum tempo depois, disseram a eles que os diretores de fábricas alemães viriam visitar o campo em busca de trabalhadores. Ben Abraham conseguiu falar com um deles e convencê-lo de que era mecânico de verdade. Assim, foi transferido para outro bloco, de onde seria levado a Braunschweig de trem, com um grupo de 250 prisioneiros.

Ben Abraham havia estado em Auschwitz por duas semanas.

 

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