Durante todo aquele período, Miriam continuava a receber cartas de sua tia Ana, convidando-a a vir visitá-la no Brasil. Mas ela estava decidida a viver em Israel e achava que essa viagem aconteceria somente num futuro distante. Contudo, como tia Ana insistia e ela comentou o assunto com seus amigos de escola, eles tentaram convencê-la a aceitar o convite. Seria melhor, diziam eles, que ela fosse agora que ainda tinha que estudar mais um ano até se formar. Depois de formada, ela não poderia mais deixar seu trabalho no hospital.
Miriam então escreveu para tia Ana, que imediatamente começou a preparar sua documentação para que ela pudesse tirar o visto. Miriam considerava-se privilegiada por ter uma família tão dedicada, tanto em Israel como no Brasil. E embora ela tivesse a intenção de passar somente alguns meses fora, seu tio Moshé lhe disse, na estrada para o porto de Haifa, onde estavam plantando mudas de palmeiras: “Algo me diz que essas mudas já terão ser tornado árvores altas quando você voltar para Israel”.
Depois de alguns dias de ansiosa espera pelo visto no consulado brasileiro em Gênova, Itália, ela finalmente conseguiu embarcar no navio com destino ao Brasil. A vista da baía da Guanabara, no Rio de Janeiro, estava magnífica e no dia seguinte o navio atracou no porto de Santos.
Um grande grupo de parentes veio recebê-la no porto. Ela conseguiu reconhecer alguns deles, que haviam deixado Luck quando ela ainda era pequena, incluindo Tia Ethel, a irmã de sua mãe, que tinha vindo para o Brasil em um dos últimos navio que partira antes da guerra.
Miriam foi passar algum tempo com sua tia Ana na cidade de Ourinhos, no interior de São Paulo. Eles tinham um negócio próspero e uma casa grande e bonita, que sempre estava cheia de gente. Miriam não estava acostumada a todo esse bem estar, e nem tampouco à vida social de São Paulo, aonde ela foi algumas vezes para ficar no apartamento dos primos. Ela achava que a juventude israelense tinha objetivos muito mais nobres do que os jovens que havia conhecido no Brasil.
Assim, embora sua família fizesse o melhor que podia para que ela se sentisse em casa, a única coisa que ela pensava a respeito era voltar para Israel. Um dia, decidiu ir a São Paulo dar entrada na documentação para o retorno. Mas o oficial israelense que a atendeu disse-lhe algo que mudaria seus planos: “Nós estamos tentando educar as gerações mais jovens sobre a nossa língua, cultura e tradições; queremos abrir novas escolas, mas não temos professores suficientes. Estamos tentando trazer professores e educadores de Israel, mas isso é caro e difícil. Já que você já está aqui, por que você não começa a lecionar, e nos ajuda nesse esforço, e depois você vai?” Depois dessa conversa, Miriam mudou de ideia e aceitou o convite.
Pelos quatro anos seguintes, ela trabalhou como professora em diferentes escolas, ensinando hebraico e tradições judaicas. Agora ela morava em São Paulo, no apartamento de seus primos, que ficava no bairro tradicional judaico do Bom Retiro. Durante todo esse tempo, ela trocava cartas com os parentes de Israel e embora sentisse que estava sendo útil no Brasil, ainda desejava retornar a Israel e participar da construção do país.
Ela ainda estava dividida entre os dois lugares até conhecer Ben Abraham.
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