O Caso Mengele

Mengele - The Truth Exposed
Capa do Livro “Mengele – A Verdade Veio à Tona” em inglês.

Em junho de 1985 a Polícia Federal, agindo com base em informações recebidas das autoridades alemãs, anunciou a descoberta do corpo de Josef Mengele, o qual teria morrido afogado em uma praia em Bertioga, litoral do estado de São Paulo, em 1979. Enquanto as investigações prosseguiam, Ben Abraham começou a desafiar as “evidências” apresentadas pelo grupo de cientistas forenses em sua tentativa de provar que o corpo encontrado era mesmo o de Mengele.

Ben Abraham atuou exaustivamente para chamar a atenção das autoridades no Brasil, em Israel, Alemanha e Estados Unidos para as discrepâncias entre as características do corpo exumado e as informações oficiais sobre o verdadeiro Mengele, coletadas dos arquivos da SS, do governo paraguaio e de outras fontes. A maior parte das informações que ele apresentava haviam sido cedidas a ele por seu amigo Menachem Russek, ex-Diretor de Investigações dos Crimes Nazistas em Israel. Ben Abraham afirma que, após cuidadosa investigação, Russek recusou-se a confirmar a autenticidade do corpo encontrado no Brasil, mas ordens superiores acabaram fazendo com que ele fosse afastado do caso.

Como Russek não podia agir em seu próprio nome, decidiu dar a Ben Abraham todos os documentos em seu poder, o qual os publicou em seu livro “Mengele – A Verdade Veio à Tona”.

Como escreveu em seu livro “Mengele – A Verdade Veio à Tona”, as principais questões que ele afirma permaneceram sem reposta por parte das autoridades brasileiras são as seguintes:

  1. As impressões digitais, arcada dentária e a caligrafia do homem cujo corpo foi encontrado no cemitério do Embu são diferentes daquelas do verdadeiro Mengele.
  2. O crânio exumado era 6,5 centímetros maior do que o crânio de Mengele.
  3. A altura do esqueleto exumado era maior do que a altura de Mengele, obtida em 1938.
  4. Uma das restaurações em um dos dentes de Mengele não foi encontrada no mesmo dente do corpo exumado.
  5. A Dra. Maria Helena Bueno de Castro, dentista que se apresentou à polícia brasileira, declarou que havia atendido o verdadeiro Mengele dois meses após sua suposta morte. Porém, foi declarada insana pela polícia e seu depoimento foi invalidado.
  6. A polícia brasileira não permitiu que o Dr. Menachem Russek se encontrasse com a Dra. Maria Helena Bueno de Castro.
  7. De acordo com a Dra. Maria Helena Bueno de Castro, as autoridades brasileiras recusaram-se a chamar outras testemunhas que também haviam visto Mengele no consultório dela dois meses depois de sua suposta morte. Essas testemunhas foram assassinadas misteriosamente mais tarde, sem nunca terem prestado depoimento. Segundo a dentista, suas mortes não foram investigadas pela polícia.
  8. O prontuário odontológico do paciente da Dra. Maria Helena coincidia perfeitamente com o prontuário odontológico de Mengele na SS, porém, não coincidiam com o do esqueleto exumado pela polícia.
  9. O homem que assumiu a identidade de Mengele havia supostamente sido atendido por outro dentista, o Dr. Kasumasa Tutiya. De acordo com o Dr. Menachem Russek, a agenda desse dentista havia sido grosseiramente adulterada de modo que as datas das supostas consultas coincidissem com as datas registradas no diário de Mengele. Além disso, embora as datas coincidissem, os horários não coincidiam.
  10. As radiografias entregues pelo Dr. Tutiya à polícia foram inclusas nos arquivos oficiais da investigação, apesar das discrepâncias com a arcada dentária do verdadeiro Mengele. Omitiu-se, no entanto, o prontuário odontológico de Mengele na SS.
  11. O suposto afogamento teria ocorrido em 7 de fevereiro de 1979. Contudo, a nora de Josef Mengele (esposa de seu filho Rolf) havia enviado a Josef Mengele uma carta em 9 de março de 1979, parabenizando-o por seu aniversário.
  12. Em março de 1985, ou seja, três meses antes da descoberta do corpo no cemitério do Embu, as radiografias de Mengele foram roubadas do Centro de Documentação de Berlim.

A atuação de Ben Abraham para provar que os relatórios oficiais estavam errados teve ampla repercussão no Brasil e no exterior. Como resultado, os governos de Israel e da Alemanha não fecharam o caso por sete anos, assim como o Museu Yad Vashem.

Em relação às autoridades israelenses, Ben Abraham teve uma reunião com o então primeiro-ministro Yitzchak Shamir no início de 1987, e disse a ele que estava se preparando para dar uma entrevista ao jornal inglês Daily Express revelando toda a informação que possuía sobre o caso Mengele. Shamir pediu a ele que esperasse por um mês, assim Ben Abraham cancelou a entrevista já agendada em Londres e aguardou o prazo combinado. Passados os 30 dias, o cônsul israelense em São Paulo, Sr. Tzvi Caspi, informou a Ben Abraham que Shamir havia anunciado oficialmente na televisão israelense que Israel havia reaberto o caso por terem tido acesso a provas demonstrando que o corpo encontrado no Brasil não era o de Mengele.

Durante a mesma viagem a Israel em que se reuniu com Shamir, Ben Abraham apresentou uma cópia de seu material aos arquivos do museu Yad Vashem. O diretor dos arquivos, Dr. Shmuel Krakowski, enviou uma carta ao presidente da Sherit Hapleita do Brazil, Sr. Manfred Freifeld, confirmando que havia recebido os documentos e declarando que “Os documentos fortalecem nossa crença de que o corpo exumado no Brasil de fato não é o de Mengele. Portanto, não há razão para encerrar a investigação acerca de seu paradeiro.”

Ben Abraham também agendou uma reunião entre a dentista Dra. Maria Helena Bueno de Castro e o parlamentar israelense Dov Schilanski, então presidente da Comissão Nacional de Assuntos Internos. Schilanki ficou convencido de que o depoimento dela era verdadeiro e de que seu prontuário era autêntico. Além de declarações a jornais sobre o caso, ele também enviou a Yitzchak Shamir uma carta exigindo uma declaração oficial do governo israelense negando a autenticidade do corpo.

Durante sua permanência no Brasil, Dov Schilanski deu a Ben Abraham uma cópia da moção que ele havia apresentado ao primeiro-ministro israelense, perguntando a ele por que a embaixada israelense no Brasil não havia refutado as informações incorretas apresentadas ao público pela polícia brasileira acerca do posicionamento israelense diante do caso. Um dos integrantes do grupo policial responsável pela exumação do corpo havia declarado à imprensa brasileira que o patologista israelense Dr. Maurice Rogev confirmara a precisão da investigação em andamento, informação que foi publicada por jornais brasileiros. Schilanski exigiu em sua moção que tais informações fossem negadas oficialmente pelo governo israelense, pois Rogev sempre havia declarado que a informação apresentada pela polícia brasileira ainda precisava ser esclarecida. Ben Abraham escreveu uma matéria sobre o assunto, a qual foi publicada pela revista Resenha Judaica, em março de 1988.

Ben Abraham também conseguiu contato com autoridades alemãs incumbidas do caso, com o auxílio da associação B’nai B’rith, em 1987. Ele afirma que sua atuação fez com que a Alemanha não encerrasse o caso naquela época, comunicando em declaração oficial que materiam o caso aberto por pelo menos mais um ano para mais investigações.

A fundadora da Associação CANDLES (Sobreviventes das Experiências Nazistas Mortais de Laboratório Com Crianças em Auschwitz), Sra. Eva Kor, ajudou a divulgar o relatório do Dr. Menachem Russek internacionalmente, em um esforço conjunto com Ben Abraham. Em 1989, ela liderou uma convenção internacional com os membros da associação em Jerusalém. Como Ben Abraham não pôde comparecer devido a restrições médicas, Eva distribuiu aos jornalistas presentes uma carta aberta de Ben Abraham, a qual mencionava as informações constantes de seu livro.

A opinião de Simon Wiesenthal também foi influenciada pelo livro de Ben Abraham. No Boletim de Informações nº 29, publicado em Viena, Áustria, em 31 de janeiro de 1989, Wiesenthal declara que no ano anterior havia recebido “informações que suscitavam sérias dúvidas” sobre o caso. Ele mencionou também os detalhes listados no livro de Ben Abraham: as possíveis causas de um orifício no crânio; o comprimento do esqueleto; o depoimento da Dra. Maria Helena Bueno de Castro sobre ter atendido Mengele após sua suposta morte. Ao final, o boletim menciona as recusas de Menachem Russek e do promotor público alemão Hans-Eberhard Klein em declarar Mengele como morto, na época.

Em 1992, um teste de DNA confirmou que a amostra analisada continha o mesmo material genético que uma amostra de sangue do filho de Mengele, Ralf. Entretanto, Ben Abraham não ficou convencido de que a amostra examinada era genuína. Ele alega que os ossos enviados à Universidade de Oxford para serem examinadas poderiam ter sido retiradas dos ossos dos parentes de Mengele sepultados na Alemanha, as quais poderiam ter sido facilmente roubadas.

Ben Abraham alega que Mengele foi protegido pela CIA até 1992, quando de fato morreu, porque havia fornecido à inteligência norte-americana informações sobre suas experiências com seres humanos durante o Holocausto, bem como informações de cunho militar.

Além disso, Ben Abraham afirma que foi somente em 1992 que Rolf Mengele finalmente concordou em permitir que fosse coletada uma amostra de seu sangue para o exame de DNA porque nessa época seu pai já estava morto, o que ainda não era verdade em 1985.

Ao final de seu livro, Ben Abraham acusa Alemanha, Estados Unidos, Israel e Brasil de conivência com o plano de não revelar a verdade sobre o caso Mengele. Os quatro países aceitaram os resultados do teste de DNA como prova autêntica da identidade do corpo encontrado no Brasil.