Ben Abraham veio para o Brasil em 21 de Janeiro de 1955. Algum tempo depois de sua chegada ao País, abriu com um amigo uma fábrica de poltronas no bairro do Brás, em São Paulo.
Em outubro, conheceu Miriam Dvora Brik, em um trem na cidade de São Paulo. Eles já haviam se visto antes. Miriam era uma sobrevivente vinda da Ucrânia, que tinha vindo para o Brasil alguns anos antes e agora morava com seus parentes. Ela ficou impressionada em notar como “Chaim” – assim ela o chamava – tinha vindo para o Brasil sozinho e praticamente sem nenhuma ajuda havia conseguido começar seu próprio negócio. Na época, ambos moravam no Bom Retiro, bairro tradicional da comunidade judaica em São Paulo. Eles ficaram noivos em 21 de janeiro de 1956 e casaram-se três meses depois.
Em 1958, Ben Abraham naturalizou-se brasileiro.
Quando nasceu o filho Jacques, Miriam decidiu deixar seu emprego como professora para cuidar do bebê, enquanto Ben Abraham trabalhava na fábrica de poltronas. O negócio prosperou e eles mudaram-se para uma casa maior. Alguns anos depois, nasceu a filha Edith.
No início dos anos 1970, depois de seu filho Jacques completar 13 anos, eles viajaram para Israel a fim de celebrar seu Bar Mitzvah no Muro das Lamentações, em Jerusalém. Foi a primeira vez que o casal retornou a Israel depois de fixarem residência no Brasil, e nessa oportunidade estiveram com os parentes de Miriam que a haviam acolhido logo após a guerra. Muitos membros da família ortodoxa de Ben Abraham também estiveram presentes à cerimônia. Durante essa viagem, o casal visitou o Museu Yad Vashem em Jerusalem. Eles retornaram ao país muitas vezes depois para visitar o Muro das Lamentações e o museu.
Em 1972, Ben Abraham decidiu escrever um livro sobre sua experiência como sobrevivente. A princípio, sua esposa Miriam ficou preocupada, temendo que ele ficasse deprimido ao relembrar o passado, pois frequentemente tinha pesadelos nos quais clamava por seus entes queridos. No entanto, como ela escreveu em seu livro: “aconteceu algo surpreendente; à medida que Chaim relatava o passado, mais se acalmava. […] Relembrar e descrever as memórias teve um efeito benéfico sobre ele, como se, por meio de seus relatos, se libertasse daquele sofrimento”. Foi quando seu primeiro livro – “… e o mundo silenciou” – foi publicado que ele adotou “Ben Abraham” como pseudônimo literário.
O livro obteve excelentes críticas literárias. Várias edições do livro foram publicadas no mesmo ano, e também nos anos subsequentes. Enquanto a repercussão crescia, Ben Abraham tomou consciência da importância de dar o seu testemunho aos jovens, e assim tornou-se cada vez mais dedicado a fazê-lo em palestras e por meio dos artigos que conseguia publicar em jornais e revistas.
Ben Abraham escreveu 15 livros, a maioria dos quais relacionados ao Holocausto e à Segunda Guerra Mundial. Alguns de seus livros foram traduzidos para o inglês e publicados nos Estados Unidos. A renda das publicações era investida em novas edições, pois Ben Abraham mantinha seu princípio de não ganhar dinheiro às custas de milhões de vítimas do nazismo.
Ao longo dos anos, Ben Abraham tornou-se mais e mais envolvido com seu trabalho entre a comunidade Judaica. Mais tarde tornou-se presidente da Sherit Hapleitá Brasil – a associação dos sobreviventes do nazismo – onde trabalhou para promover eventos de educação e lembrança do Holocausto.
No nordeste do Brasil, um grupo de pessoas fundou a “Fundação Ben Abraham”, entidade destinada a lutar contra os neonazistas que tentavam propagar suas ideias na região.
Algum tempo depois, o casal decidiu viajar para a Polônia para visitar a cidade natal de Ben Abraham, Lodz. Eles encontraram a casa onde ele vivera antes da guerra, e também o pequeno apartamento onde ele viveu com seus pais no gueto de Lodz mas, quando tentaram encontrar o túmulo de seu pai, descobriram que o cemitério estava em ruínas, então fixaram uma placa em sua memória em um dos muros remanescentes do cemitério. Ao visitarem Zgierz, a cidade natal de seu avô, também tentaram encontrar o cemitério judaico, somente para descobrir que este também tinha sido vandalizado.
Miriam e Ben Abraham também visitaram a cidade natal de Miriam, Luck, na Ucrânia. Miriam não conseguiu reconhecer boa parte da cidade, pois esta foi reconstruída depois da guerra. O cemitério judaico de Luck também tinha sido vandalizado.
No entanto, eles encontraram um monumento que havia sido erigido durante o governo de Gorbatchev em memória às vítimas do nazismo, constatando algo relevante: a placa maior em ucraniano diz que as vítimas eram cidadãos soviéticos; somente uma placa menor em iídiche mencionava as vítimas judias.
Em 1978, Ben Abraham foi convidado pelo governo do estado de São Paulo a tornar-se membro do grupo de assessores da FEBEM (Fundação de Bem Estar do Menor), atual Fundação Casa.
A partir de 1980 e nos anos seguintes, o casal começou a ser convidado por escolas, faculdades, igrejas e várias outras instituições para apresentar seu testemunho como sobreviventes do Holocausto, no Brasil e no exterior. O casal estima que tenham estado em mais de 5.000 escolas, desde então.
Tanto Miriam quanto Ben Abraham costumam dizer que nunca recusam um convite para falar sobre o que aconteceu com eles durante a guerra. Eles já viajaram para muitas cidades brasileiras em seu esforço para conscientizar as gerações de jovens brasileiros a respeito do Holocausto, para que este jamais se repita.
Uma das observações favoritas de Ben Abraham nessas ocasiões é mencionar que a Alemanha era uma democracia quando Hitler ascendeu ao poder, enfatizando a importância da responsabilidade em eleições presidenciais.
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O casal teve dois filhos, Jacques e Edith, e quatro netos. Jacques Nekrycz faleceu em 2000, em decorrência de um acidente.