Miriam Nekrycz – A Libertação

Luck foi libertada pelas tropas soviéticas no início de fevereiro de 1944 e os alemães foram expulsos da aldeia. Embora Miriam estivesse livre e os primeiros dias após a libertação parecessem como o despertar de um pesadelo, ela não conseguia ficar feliz, diferentemente de todos ao redor. Ela queria visitar seu irmão Moniek agora que os alemães não representavam mais perigo, então foi para a casa da senhora alemã que o havia escondido.

Antes de chegar à casa, uma das vizinhas veio e lhe contou que, assim que a senhora alemã soube que a família havia sido exterminada, pegou Moniek e o entregou aos nazistas. O mundo de Miriam estava novamente em ruínas, mas o que poderia fazer?

ZIVIA
Zivia Lubetkin. (Pintura a óleo).

Ela decidiu ir para Luck, mas não encontrou nenhum de seus parentes. Poucos judeus haviam sobrevivido em Luck, muitos dos quais ainda tinham medo de deixar seus esconderijos. Os poucos judeus que Miriam encontrou contaram a ela o que havia acontecido ao grupo de homens judeus que tinha sido convocado para o trabalho forçado quando os alemães ocuparam Luck: tinham todos sido executados, o que incluía o pai e o tio de Miriam. Os judeus que haviam permanecido no gueto tinham sofrido miseravelmente no inverno, morrendo de fome e doenças, até o dia da grande matança. Aqueles que não tinham sido enviados a campos de trabalho rebelaram-se quando perceberam que os nazistas preparavam-se para executá-los; lutaram bravamente e morreram como heróis.

Ela foi visitar a filha do pastor protestante, que a reconheceu e disse a ela que a máquina de costura de sua tia estava lá e ela poderia pegá-la assim que desejasse. Miriam, porém, não encontrou Bolka, a antiga empregada de tia Ana. Ela tinha ido para algum outro lugar e sua casa estava vazia. Miriam então decidiu ir até o escritório da NKVD, a polícia soviética, e contou aos oficiais o que a senhora alemã havia feito com seu irmão Moniek. Eles disseram que prenderiam a mulher, mas como ela ficaria sabendo se, de fato, o fariam?

Miriam também requereu das autoridades russas a casa de seu tio em Kopaczówka, mas ela tinha sido ocupada por várias famílias. Ela e Stefcia, que desejava ser independente dos sogros, mudaram para o antigo quarto dos tios de Miriam – o único disponível. Um soldado judeu russo a ajudou a ir às casas dos aldeões que, no início da guerra, haviam escondido os objetos de valor de seu tio. Alguns deles não queriam devolver nada, mas quando o soldado ameaçava voltar com os guardas da NKVD, eles entregavam os bens escondidos, ou pelo menos parte deles. O tempo todo, ela tinha consciência de que outros judeus sobreviventes que tinham tentado reaver seus pertences ou casas tinham sido mortos pelos novos ocupantes.

Por essa época, Miriam voltou para escola – a única criança judia na escola.

Muitos judeus solitários que tinham sobrevivido à ocupação nazista vieram morar em Kopaczówka; alguns deles viviam juntos na mesma casa. Um deles disse a Miriam que alguns judeus que tinham se escondido na mesma floresta do bunker de sua família tinham vindo, durante a noite, e sepultado sua família no bunker .

Um dia o marido de Stefcia voltou do exército, mas não ficou por muito tempo; logo, decidiu voltar para Rússia.

 

Continuar lendo: Retorno às Origens Judaicas.